A MATANÇA DO RECO, EM VALDANTA
O sábado amanheceu com um merujar amaciador do frio decembrista.
Na ampla cozinha a consoladora fogueira espalhava calor pela casa e pelo quinteiro.
Pela mesa e pelo escano não faltava com que «matar o bicho».
A conversa, matizada com ditos espirituosos, com uns a “meterem-se” com outros e todos a “meterem-se” com todos, dão ao princípio do dia uma entrada triunfal de vida!
E os tons das vozes combinam-se numa harmoniosa composição a fazer estremecer comovido o peito do autor.
É espantoso como as mulheres, na cozinha, conseguem fazer milhentas tarefas tão particulares, tão pormenorizadas, a um ritmo permanente e que resulta num almoço que até regala mais o coração do que enche a barriga. E se esta fica farta!!!.... Nem vos passa pela cabeça!
É espantoso como os homens, depois de «matarem o bicho», se colocam no quinteiro, se dispõem tacticamente para agarrar o reco, meter-lhe a corda no focinho, deitá-lo no banco, abraça-lo com beleza arquitectónica e segurança matemática, e o “matador”, mais que certeiro, sangra o bicho.
É assim, depois da matança do bicho, a matança do reco.
E na cozinha continuamos a admirar o entendimento sinfónico dos gestos, do vaivém e das palavras das mulheres.
A Dulce cuidou dos alguidares com sangue. Depois de o mexer e traçar com a mão mete-o num pote em que a água já fervia.
O forno está em labaredas, à espera de ficar com a temperatura certa para os assados, já preparados e temperados de véspera.
E os recos estão quase chamuscados .
O Nel mete uma bucha à boca.
O Domingos foge do chamusco e vem à cozinha “meter-se” com as mulheres, mas elas correm-no lá para fora.
O João Barrosão, um rapaz simpático, ajudou à matança pegando na faca do matador com o zelo, o aprumo e a cerimónia de um comandante-de-bandeira na frente da batalha de Austerlitz!
O João do Narciso descuidou-se e levou uma patada de um reco. Penalti!- gritou o Lipe.
O Nuno mostrou a sua boa forma atlética e quando apanhou os recos fez-lhes uma placagem de fazer inveja ao “Três-quartos” de ponta dos «All-Blacks”!
O Tó agarrou a pata traseira dos recos com certeza e firmeza.
O sangue foi posto na mesa a tempo e horas. O azeite, o alho, o pão centeio e a malagueta estavam a acompanhá-lo «à maneira».
Soube bem!
Aviados estes dois recos, a equipa da ZÉ Matador abalou para outra, na casa da Dulce.
Como a ceva era para o Flávio da Mila e para a Mila do Flávio, da Abobeleira, nós ficámos na Catedral da Capela, convencido de que o pelotão tinha ido para as margens da barragem romana.
Afinal o bicho estava ali em cima, no cimo do povo!
A mesa para o almoço foi preparada. Vai do cimo ao fundo da garagem.
Fora as mulheres que andavam numa fona a atender os apetites dos sentados à mesa, comedores seriam mais três ou quatro de 35, ou menos um ou dois que 36!
Um caldo, de regalo; pato; vitela; frango; cordeiro; batatas assadas; arroz; alface; vinho de Três Vasilhas!
Da sobremesa até se lhe perdeu a conta de tantas coisas doces e boas.
E, a remate, café, «Chivas», «Porto», e….”GEL”!
E para vos matar a curiosidade já chega.
Isto é só o intróito.
Agora, «advinhinde» os parágrafos seguintes!
Valdanta, 5 de Dezembro de 2009
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