Em Valdanta, como em todos os lugares, sempre existiram pessoas que, pelo seu estado de espírito ou forma de ser e estar na vida, se tornaram notáveis e serviram de pontos de referência para os demais.
Falar do Blero, Domingos "Tripa" ou do Jaime "Ferreiro" é ter à mão um manancial de peripécias dignas dos maiores estoriadores ou fazedores de novelas. Sentados nos degraus desta cruz, foram-se passando e contando muitas facetas da vida real, que vão desde o contrabando de minério e outro até às "partidas" feitas a outros executadas ou sofridas por eles.
Numa dessas tardes de ócio, quando estes três ilustres senhores se encontravam a apanhar umas résteas do sol de inverno para aquecer o corpo e o espírito, já que para o estômago seria necessário outro tipo de "sol", isto é... comida, o Blero teve uma feliz ideia e propôs aos parceiros:
- Se conseguirens arranjar binho e trigo eu roubo um coelho à patroa e ... fazemos uma tainada.
Pergunta o Tripa:
- Oh Manuel! (era assim que se chamava o Blero) ... como é que tu consegues fazer isso?
- No Domingo!... Enquanto ela bai à missa eu trato de tudo.
- Humm... resmunga o Jaime ferreiro.
- Olha que qem for melhor que nós, que seija rilhado por as formigas. Diz o Blero no seu estilo característico, aspirando um pouco de ar para dentro da goela.
Meios desconfiados uns dos outros, pois, como diria o Abílio Gaiteiro, nenhum deles "era certo", lá combinaram a tainada para o Domingo próximo em casa do Blero. O Tripa dava um garrafão de vinho, o Jaime dava 3 "trigos" de 4 cantos e o Blero dava o coelho.
No dia e hora marcados lá se juntaram cada um com a sua encomenda, acenderam o lume e cozinharam o coelho previamente preparado e deixado de vinha de alhos. Aquilo feito num pote de ferro e ao lume dava outro paladar, também não havia fogão, mas o Blero estava mal do estômago e não comia do coelho, apenas mastigava trigo e bebia vinho.
- Oh Manuel num comes coelho?... Porquê?... Perguntou o Tripa
- Ando mal da barriga e estou tcheio de comer coelho, c'a 'nha mulher dá-mo todos os dias. Respondeu o Blero com cara de enfastiado.
- Atão, ó menos, molha o trigo no molho. Diz-lhe o Jaime. Mas o Blero fez uma cara esquesita e de quem está muito mal e não comeu do coelho.
- Num quero. Comei bós, c'a mim tchega-me o trigo e o binho.
Estavam a acabar a tainada quanto a mulher do Blero entra em casa e vendo os três já bem compostos, pois já tinham bebido o vinho quase todo do garrafão, pergunta o que comeram.
- Foi um laparoto q'aqui o Jaime apanhou numa ratoeira. Diz o Blero com cara de inocente.
- Mas atão eu num bi na loija o coelho que estaba co'a morrinha!...
Escusado será dizer o que se passou a seguir e nem sequer vale a pena explicar mais nada. Enfim, mais uma da Escola do Blero.
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