Recebi, com o pedido de publicação e dedicada ao A. Cruz, esta história ou lenda do Tio Xico, escrita pelo nosso amigo Tupamaro a quem eu dou as boas vindas aos textos Bloguistas com um grande, mas mesmo muito grande abraço e é com muita emoção que eu coloco aqui esta fotografia, que só o apêndice do portão não é original, mas a entrada é, da quinta do dos Taroucos (como é conhecida na Granjinha) que foi pertença dos meus avós paternos. Para si Tupamaro um Bem Haja muito sincero. Zé d'Arminda.
""Lenda do Tio Xico""
Indo da Granjinha para a Cidade, uma dezenas de metros descidos do Alto das
Carvalhas, do lado esquerdo, surge (?) um muro de pedra no qual está um
Portal, às vezes disfarçado com giestas ou ramos de pinheiros, uma «cancela»
(atenção, ó Pires!). Subindo-o e seguindo o caminho a descrever meia - lua
vai - se direitinho à Fonte da Moura, mesmo à esquerdinha, quase a meio do
"Pedrete".
Conta a Lenda que o Tio Xico, da Quinta que depois foi do Barrosão, vinha,
um dia, das Casas-dos-Montes, já noite dentro, tangendo o seu carro de bois.
O luar era o de Agosto.
A Fonte da Moura «gorguejava», por entre o silvedo emaranhado em
carvalhotos, carquejas e giestas, as gotículas que se despendiam do fiozinho
de água derramado com o consentimento da «veia» da Lama.
Os grilos e as cigarras compunham melodias de embalar, e os mochos e as
corujas introduziam o seu pio ao ritmo da mudança de passo da junta de bois
do tio Xico.
Os pirilampos sinalizavam as beiras do caminho e o carreiro por onde as
raposas se esgueiravam em direcção ao silvedo da Fonte, mal sentiam o trepar
ou o falar de alguém.
Passado o rego que dava para as hortas, os bois pararam de repente.
O tio Xico bateu levemente com a aguilhada no jugo e incitou a junta a
andar: - ei!, boi, ei!
Ao virar-se, viu surgir do carreiro da Fonte um enorme «vestigo», em pé, de
enormes olhos cor de esmeralda, com uma boca enorme, aberta, e língua
afiada, e atado ao pescoço um enorme manto de muitas cores flamejantes.
Os bois assustaram-se e o tio Xico apanhou um enorme susto. Arrepiou-se
todo.
Fez o sinal da cruz e gritou: Jesus, Maria, José!!! Os bois arrancaram numa
corrida louca. A soga de um tocou no tio Xico. Credo! - gritou. Ai que a
Moura vai agarrar-me! E desata a correr a sete pés, à frente do carro e dos
bois, galgando a distância até ao "Alto das Carvalhas" num abrir e fechar de
olhos.
O portão do quinteiro estava aberto e de imediato soltou o gado e meteu-o na
corte.
Naquela noite não pregou olho .... nem se virou para o lado.
A Moura continua a dar o encanto à Fonte.
(Dedicado ao A.Cruz)
Tupamaro
O ferreiro de Valdanta foi uma daquelas pessoas que passou por lá e que, talvez, não haja ninguém que tenha convivido com ele e que o tenha esquecido.
Quando éramos miúdos e tinhamos "coxo", "epigens" ou outra maleita do género, levavam-nos ao ferreiro para fazer, na forja, um óleo de nóz com que nos curava. Ia-se ao ferreiro para aguçar um pico ou um sacho ou outro qualquer serviço da sua arte. Ia-se ao ferreiro até e apenas para nos aquecermos na forja, oferecendo-nos para dar ao fole. Quando uma enxada já estava muito gasta dizia-se:
- Leba o ôlho ó ferreiro qu'ele faz-te uma noba!...
Não sei ao certo de onde era natural o senhor António ferreiro, mas suponho que era de Santa Comba de Vales no concelho de Mirandela. Casou na Abobeleira e foi para Valdanta onde se instalou com uma forja junto à estrada, naquela casa amarela que se vê na fotografia, e por aí trabalhou e viveu. Teve uma quantidade enorme de filhos, não sei ao certo quantos, alguns com idades próximas da minha, com quem convivi e andei na escola, como o Zé, a Helena, o Aniceto, o Horácio e a Laida. Dos mais velhos, recordo-me da Alzira, da Alice, do João e do Manuel. Não sei se havia mais. O Horácio que vive em Viseu, se por acaso tiver conhecimento disto, que nos esclareça.
A maneira de falar dele era muito engraçada. Quando lhe perguntavam porque é que tinha tantos filhos, respondia acentuando muito os "ss":
- "É a minha Subana, (Silvana) é só uma chiscadela e já está".
Gostava muito de uma pinga de vinho, mas, para ele, não havia como o do Quim Morilho. Quando ia para a Abobeleira, entregar obra feita ou tratar dos terrenos que por lá tinha, passava sempre por casa do Morilho com o sentido de beber um copito, e então dizia:
- Ó Morilho cadalho, tenho uma sede do cadalho, e só o teu binho é que me mata a sede, cadalho, dá cá um copo cadalho.
O Morilho, que gostava de o ouvir, dizia-lhe:
- Atão na Abobeleira num te deram de buber?
- Deram cadalho, mas só o teu binho é que me mata a sede cadalho, dá cá um copo cadalho.
Era sempre assim quando o Ferreiro passava pela casa do Morilho e eu, também com o sentido que o Morilho me molhasse a garganta, lá me aproximava para ouvir as histórias do Ferreiro.
Também fumava bastante, daqueles cigarros chamados "mata-ratos", mas um dia adoeceu e teve que ir ao médico.
Foi a Chaves a uma consulta. O médico fez-lhe umas perguntas, uns exames, auscultou-o e torceu o nariz. Virou-se para ele, com cara de quem não gostou nada do estado de saúde do Ferreiro, e disse-lhe:
- Ó senhor António! ... O senhor se quizer continuar a viver por mais uns tempos tem que deixar de fumar e beber!... (mais uma torcedela de nariz) Senão....
O Ferreiro coça a cabeça, olha para o médico de soslaio, dá uma volta ao chapéu que tinha pousado nos joelhos e que por acaso até já nem parecia chapéu nem nada, ou antes, mais parecia um capacho do lagar de azeite, vira-se para o médico e diz com muita convição:
- Ó senhor doitor, cadalho, entes quero continuar a fumar do que deixar de buber, cadalho!...
Nas tardes frias de Inverno do nosso tempo de crianças, para aquecer o corpo e o espírito não havia melhor do que um jogo popular disputado no largo entre o adro da Igreja e o campo de futebol. Havia vários jogos populares e tradicionais especialmente para os rapazes, como a Tchoquinha, a Bilharda, o Pião, além de uma peladinha, mesmo com bola de trapos que quando se molhava era um pesadelo.
Hoje, proponho-me relembrar e divulgar as regras e normas do jogo da “TCHOQUINHA”, muito popular em Valdanta e jogado com muito entusiasmo. Assim:
O Campo:
- O campo deve ser amplo e é composto por uma cova central com cerca de 1.00 de diâmetro, chamada “CALDEIRÃO” e, umas covas mais pequenas com cerca de 0.40 m de diâmetro a que chamam “NITCHOS”, dispostos em forma de círculo à volta do caldeirão e separados deste cerca de 1.50 m. A cerca de 10 m do caldeirão e em direcção oposta aos nichos marca-se no chão um risco a que se chama “RAIA”.
Os Acessórios para o Jogo:
- O elemento principal é uma pinha fechada a que se chama “PORCA”, “TCHOQUINA” ou “RECA” e cada jogador tem que estar munido de um pau, normalmente de carvalho com um bocado da raiz ao fundo, tipo moca, mais ou menos com o formato e tamanho de um stick de hóquei em patins.
As Condições atléticas:
- Cada elemento deve ser dotado de boa pontaria para acertar na pinha, olho vivo para tomar conta do nicho e ligeireza de manobra com o pau.
Os Jogadores:
- No mínimo devem ser 3 jogadores e no máximo 7, e é uma espécie de um contra todos. Um jogador é o PORQUEIRO que é sacrificado e toma conta da porca, com a obrigação de a meter no caldeirão. Os restantes são os NITCHEIROS e têm a obrigação de defender o caldeirão, não deixando que o porqueiro, aí, introduza a porca. Também têm que defender os nichos, porque o porqueiro pode roubá-los e então, o roubado passa a ser porqueiro. Se houver 7 jogadores só valem 6 nichos, se forem 6 só valem 5, isto é, os nichos são sempre em número igual ao dos jogadores menos 1. O jogador a mais será o porqueiro.
O Jogo:
- Com a ajudo do meu colega e amigo Miguel Feijão apresento-vos um esboço do campo que normalmente, no meu tempo, costumávamos utilizar.
Inicia-se o jogo com todos os jogadores a rodar à volta do caldeirão e com o pau medito dentro dele. Após uma ou duas voltas, um jogador grita NITCHOS!.... E de imediato cada um procura colocar o seu pau num nicho e o jogador que ficar sem nicho começa por ser o porqueiro.
Quando tudo estiver a postos, cada um no seu lugar, o porqueiro pega na porca (pinha) ou reca e por trás da linha de raia vai atirá-la com a mão para o centro do caldeirão, correndo de imediato para a zona de jogo onde, com o seu pau, tentará ajudar a introduzir a porca no caldeirão ou encontrar um nicho livre e colocar aí o seu pau, já que cada um dos outros jogadores está a tentar atirar com a porca o mais longe possível.
Se, enquanto um nicheiro estiver a tentar bater na porca, o porqueiro colocar o seu pau no nicho doutro, este passa a ser o porqueiro.
Quando o porqueiro não é listro o suficiente e anda muito tempo com a porca e tem que fazer grandes caminhadas para a ir buscar, os restantes começam a irritá-lo dizendo “Temos porqueiro até ao mês de Janeiro” e outras.
Sempre que o porqueiro consegue colocar a porca no caldeirão e imobilizá-la, enquanto mexer qualquer um pode acertar-lhe e mandá-la para longe, o jogo recomeçará novamente com o porqueiro a escolher um nicho para ele e os restantes a rodar à volta do caldeirão até que o porqueiro grite NITCHOS!... Cada um corre à procura de um nicho e o que ficar de fora recomeça como porqueiro. E assim sucessivamente até ser de noite ou até ao toque das Trindades….
Apareceu na Blogosfera um novo Blog dedicado às cancelas tradicionais da região. Para lhe dar as Boas Vindas e desejar-lhe as maiores felicidades faço aqui este post com uma cancela, embora já dos tempos actuais e com um design engraçado.
Esta "cancela" ou portão, como quizerem substituiu um portão em ferro que já estava a cair de podre, mesmo junto da minha casa em Valdanta.
A carta que a seguir vou publicar chegou-me à mão como se fosse da Escola do Blero. Não é possível dizer com toda a certeza que assim seja, mas confesso-vos que, já quando eu era pequeno ouvia falar disto. Seja ou não da autoria do Blero, é de alguém que passou pelo sua Escola e digna de ser registada e devidamente interpretada.
O Blero foi chamado para a tropa, mas como tinha bom cabedal, não viu grandes possibiladaes de escapar ao Pré e ao Rancho, então resolveu escrever ao sr. Ministro da Defesa pedindo que o livrasse das fileiras do exército. Assim.
Sinhor Menistro da Defesa,
Benho por este modo espelicar-lhe uma situassão munto séria que tem bindo a acontecer, de maneira a puder obeter um apoio de Vossa Senhoria;
Tenho 21 anos, e fui esta semana chamado pra ter que ir prá tropa.
Sou casado com uma biúba de 44 anos que tem uma filha cum 23 anos e por isso sou padrasto dela.
O méu pai casou-se com a minha intiada.
Por isso o méu pai paçou a ser méu genro, porque casou cum a minha filha.
Por isso a ...nha filha, ou intiada, passou a ser minha madrasta, porque casou c'o méu pai.
A minha mulher e éu (claro) tibemos um filho no mês passado.
O garoto passou a ser irmão da mulher do méu pai e cunhado do méu pai. Tamém é méu tio porque é irmão da minha madrasta. O méu filho é o méu tio.
A mulher do méu pai tebe tamém um filho pelo Natal, que ao mesmo tempo é méu irmão porque é filho do méu pai e méu neto porque é filho da minha intiada que é filha da minha mulher.
Pinsando bem, sou o irmão do meu neto!...
Como o marido da mãe de uma pessoa é o pai da mesma, berifiquei que sou o pai da ...nha mulher e o irmão do méu filho.
Tchiguei à conclusão que sou abô de mim mesmo!... !...
Deste modo, sinhor Menistro, pesso le que stude bem e passientemente o méu Caso, porque a lei do nosso Goberno num permite que o Pai, o Filho e o Neto sejam tchamados para a tropa todos ao mesmo tempo.
Agradeçendo-le antecipadamente a sua atenção, mando-lhe us méus milhores comprimentos.
assinatura ilegível
Uma destas senhoras foi mordoma do último cantar de Reis em Valdanta, isto é, é esposa de um dos mordomos da Abobeleira que no último fim de semana deu cumprimento à tradição.
Esta fotografia foi tirada, suponho que, num dia de um casamento qualquer já depois de eu ter saido de Valdanta e, a pedido do nosso amigo e habitual visitante Tupamaro, aqui vos apresento alguma juventude dos anos sessenta.
A não ser a mais idosa, acho que ainda todas estão entre nós e, espero que, por muitos e bons anos.
Nesta altura de Reis mando um beijo muito grande para todas e, já agora, digam-me se se recordam delas.
Mais uma vez a tradição foi cumprida. Este ano, os Reis foram cantados pelo pessoal da Abobeleira e os mordomos foram dois rapazes meus contemporâneos, o Artur e o Flávio que não quizeram deixar os seus créditos por mãos alheias.
Como não estive presente não posso descrever o que se passou, mas apenas orgulhar-me das nossas raízes e felicitar as gentes da Abobeleira pelo empenho demonstrado e cumprimentar o Artur e o Flávio com um forte abraço e dizer-lhe que para o ano cá estaremos em Valdanta para a festa do costume. Parabéns e obrigado.
Acho que a sede da Associação Cultural e Recreativa da Abobeleira, que aqui vemos na imagem, foi pequena para a respectiva noitada. Mais uma vez "BEM HAJAM"
São estes os versos dos Reis de S. Sebastião
solo
Viemos dar Boas Festas,
Alegremente cantando.
todos
Que tenhais boa saúde
Em princípio de Bom Ano.
solo
Viemos cantar os Reis,
Viemos por devoção.
todos
Dai a esmola que puderens
para o s. Sebastião.
O cantar dos Reis de S. Sebastião na freguesia de Valdanta é, para mim, a festa mais popular e tradicional da freguesia.
Cantam-se no dia 5 de Janeiro e têm como objectivo angariar fundos para aquisição do azeite que deverá alimentar a lamparina que ilumina o Santíssimo na Igreja Paroquial da freguesia, durante todo o ano.
Esta festa é o cumprimento de uma promessa secular (talvez remonte à idade média) feita a S. Sebastião para que lhes livrasse os seus animais de qualquer maleita, peste ou doença, já que sempre foram o governo das famílias.
Consta-se que um ano (já não é da lembrança de ninguém) não se cantaram os reis a seu devido tempo, então houve uma peste que dizimou a maioria dos porcos da freguesia. Assustados e perplexos com a anomalia a população reuniu-se e em pleno verão cantou os reis e fez o respectivo peditório, e daí em diante nunca mais os reis de S. Sebastião ficaram por cantar. Também ouvi falar que há cerca de 5 ou 6 anos não se apresentaram os respectivos mordomos para o efeito, tendo a Junta de Freguesia chamado a si a organização do evento e tudo correu a contendo.
Para os naturais ou residentes em Valdanta, esta organização é tão comum como qualquer outro sistema de eleições, nomeações ou escolha de qualquer comissão de festas ou outra coisa qualquer, mas tem regras que todos conhecem. Para os de fora, não é bem assim, pois não conhecem o sistema, e então passo a explicar como toda esta organização funciona.
Normalmente são dois os mordomos. Têm que ser homens casados, e é por ordem da data do seu casamento que são escolhidos e podem aceitar ou não. Resulta, mais ou menos, com cerca de 30 a 35 anos de casado. As pessoas vão fazendo as contas e vendo quanto chega a sua vez. Às vezes aqueles que emigraram, só quando regressam definitivamente se aprestam a ser mordomos.
Cada mordomo tem os seus convidados, como do casamento de um filho se tratasse, e prepara-se com mantimentos para sustentar, nesse dia, todos os seus convidados, que por norma só são homens. As mulheres são para tratar da comida e preparar a festa para noite que é até que as forças não deixem mais.
Falar dos Reis de S. Sebastião em Valdanta é um prazer que não se acaba e não posso ter a pressunção ou veleidade de querer colocar num post desta natureza toda uma vivência e história secular.
Convido-vos a consultar o livro "Festas e Tradições Portuguesas" de Jorge Barros e Soledade Martinho Costa, editado pelo Círculo de Leitores em 2002, de onde retirei, com a devida vénia, as fotografias que vos apresento, por não possuir nenhum suporte para o efeito. Faço daqui um convite ou apelo ao Jorge Romão para que este ano faça uma reportagem, caso possa, e a publique no seu Blog.
BOAS FESTAS ME DAREIS OS REIS
Conterrâneos
Amigos
Os meus Artistas
Aldeias de Chaves
Aquela que eu tanto Adoro - Angola
Por Trás-os-Montes
Associação dos Caçadores de Mós
Escolas
Escola de Esqueiros - Esqueirinhos
Interesse Público
Notícias Regionais