Imagens, Comentários e Estórias de Valdanta (Chaves) e das suas gentes.
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Valdanta, 22 de Março de 1964
Domingo de Ramos
No ano de 1962, foi nomeado Pároco de Valdanta o padre Serafim em substituição do padre Joaquim, que passou a ter exclusivamente a paróquia de Soutelo.
O padre Serafim é natural de Vila Marim no concelho de Vila Real, proveniente de uma família humilde. Chega a Valdanta, na força da sua juventude e acabado de ser ordenado, por isso com muitos sonhos e ambições. Era sacristão da paróquia um rapaz dos seus 14 anos dado a certos devaneios artísticos, mas passado pouco tempo passou a pasta a outro mais novo, porque considerava que aquilo de ser sacristão era coisa de garotos ou de velhos e ele já não era garoto e muito menos velho.
Como era de gente humilde, mas trabalhadeira, o padre Serafim não olhava a meios para aumentar o seu escasso pecúlio familiar. Era um regalo vê-lo a carregar sacos de centeio, ou a receber o vinho quando andava a fazer a cobrança da côngrua.
Num dia de Inverno e durante a homilia da missa dominical disse que precisava de lenha para o lume por isso se houvesse uma alma generosa que lha pudesse arranjar, ele agradecia muito. Estava no coro a assistir à missa, conforme a sua devoção, o Roulo do Cando e ao apelo respondeu: - Vai por ela a Valdardães.
Quando chegou, não tinha qualquer meio de transporte e começou por comprar uma bicicleta usada, mas também não sabia andar nela. Com muita paciência e algumas partidas o sacristãozeco lá lhe ensinou a montar e andar na bicicleta. Ser de família humilde era uma coisa, mas agora que era padre e até estava numa paróquia com gente generosa, tinha que ambicionar outro meio de transporte, mas estava ciente das suas limitações por isso começou a pensar numa motorizada.
O dinheiro não chegava e na altura ainda não havia compras a crédito por isso havia que fazer alguma coisa para conseguir a referida motorizada. Falou com as catequistas que eram a Júlia e a Otília, estas convidaram as jovens desse tempo e uns rapazes para fazer um teatro com a finalidade de angariar alguns fundos para a desejada mota do padre Serafim.
Estas falaram comigo para dar uma ajuda já que eu já fazia parte do elenco dos saraus de arte da antiga Escola Comercial e Industrial de Chaves com algum mérito. Organizámos o programa, fizemos os ensaios e preparámos o sarau para apresentar às gentes de Valdanta.
Diziam os entendidos que até fizemos uma coisa digna de ser vista por gente importante e como nas representações que fizemos em Valdanta não se angariou o dinheiro suficiente, também fizemos uma representação no auditório dos Bombeiros de baixo em Chaves e assim conseguimos a verba necessária para a tão almejada motorizada.

Faz precisamente hoje 43 anos (22/3/1964) que, numa tarde de um Domingo de Ramos apresentámos em Valdanta, pela 1.ª vez este sarau de arte composto por uma peça de teatro em 2 actos (não me recordo do título) e algumas variedades com cantos, danças folclóricas e pequenas rábulas. Foi para este sarau que se compôs o hino de Valdanta que a seguir apresento sem mais comentários ou divagações, mas com a lembrança da felicidade que senti nesse dia.
Imaginem a felicidade que um jovem sente quando acaba de ser adulto pela primeira vez!... Foi isso que eu senti. Recordem comigo a felicidade daqueles momentos cantando este:
HINO A VALDANTA
Refrão
Uma saudade, quem a não tem?
Da terra amada de tão carinhosa mãe.
Saudade sim, tristeza não,
Porque a tristeza não faz bem ao coração.
I
Valdanta, ó terra querida
Recorda o teu passado,
Tens as histórias mais belas
Que a velha história te há dado.
Em noites de lua cheia,
Cantas canções de embalar.
E serão belos meus sonhos,
Todos risonhos, para me afagar.
Refrão
Uma saudade, quem a não tem?
Da terra amada de tão carinhosa mãe.
Saudade sim, tristeza não,
Porque a tristeza não faz bem ao coração.
II
Capela de Santa Bárbara
Lá no alto da aldeia
É de lá que se aprecia
A beleza que te rodeia.
Velhos castelos sorriem
Lá em Outeiro Machado,
Lembram a linda história,
Cheia de glória, teu nobre passado.
Refrão
Uma saudade, quem a não tem?
Da terra amada de tão carinhosa mãe.
Saudade sim, tristeza não,
Porque a tristeza não faz bem ao coração.
Letra: Padre Serafim e J. Pereira
Música: Padre Ângelo Minhava
Sem fazer muitos comentários sobre este acontecimento cultural, de que muito me orgulho, quero, neste dia de aniversário, homenagear algumas pessoas que fizeram parte deste evento e que estarão para sempre ligadas aos usos e costumes desta terra que nos viu nascer e que com saber, amor e muita dedicação sempre elevarão. São eles:
- Otília Santos
- Júlia Evangelista dos Santos
- Luís Alves Carneiro
- Rita Evangelista dos Santos
- Jorge Dias dos Santos
- André Chaves Romão
- Chaves Dias
- Ester Chaves Dias
- Celeste Pereira
- Leonor Dias dos Santos
- Maria da Conceição Pereira (Laida)
Ao escrever este nome varreram-se-me todos os outros que tinha para escrever e homenagear, por isso peço imensa desculpa pelas falhas que daí vêm e que me completem com tudo quanto falha neste momento, passados 43 anos.
Estou velho!...
Há uma pessoa, a principal culpada por este devaneio, que foi a primeira peça deste puzzle e que recordo com muito carinho para quem envio todo o meu respeito, consideração e apreço um grande abraço.
Duas pessoas mencionadas e que tiveram uma parte muito activa neste sarau, já não se encontram entre nós, a Rita e a Laida. Não posso fazer este post sem lhes pedir, onde quer que estejam, que velem por nós pois continuamos a amá-las tal como eram. Para elas muitos beijinhos.
Deixo aqui três fotografias de cinco pessoas, tiradas por essa altura. Não é difícil descobrí-los a todos, mas é só para ver como éramos nesse tempo.