Imagens, Comentários e Estórias de Valdanta (Chaves) e das suas gentes.
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Apareceu por Valdanta na década de 40 uma senhora chamada Senhorinha, casada em segundas núpcias com padeiro do qual não recordo o nome, mas viviam e trabalhavam na estrada onde tinham a padaria no que mais tarde foi um armazém agrícola do sr. Agostinho e onde nós fazíamos os teatros. (Na fotografia ainda se vê o local onde funcionava a padaria, é a seguir às alminhas quando se vira para o Cando).
O nome de Senhorinha deve ter a ver com a lenda da ponte de Mizarela, pois ela era natural dessa região de Barroso. Tinham uma criada chamada Maria que os ajudava em todas as lides, tanto domésticas como da padaria.
Noutros tempos a principal via de acesso a Chaves para todos quantos vinham de Barroso era a estrada de Valdanta e como a sr.ª Senhorinha tinha muitos amigos da sua terra todos paravam na padaria para a cumprimentarem ou até mesmo para passar uns dias quando os afazeres em Chaves eram mais demorados ou por altura da feira dos Santos.
Foi precisamente numa ocasião destas que recebeu em sua casa uns parentes que além de aproveitarem para beber um copito de vinho também tinham necessidade de por a conversa em dia, já que era necessário saber e dar notícias da família.
Depois da ceia e de um bocado de conversa, o serão estava para durar, já que com a ajudo do vinho a língua fica mais solta e a conversa mais fluente, mas a senhora Senhorinha não se podia dar ao luxo desses serões porque era imperioso levantar cedo a fim de cozer o pão para os primeiros passantes que chegavam quase sempre ainda de noite.
Vinham em grandes grupos, quase sempre compostos por pessoas da mesma aldeia. Traziam os seus burros carregados com carvão, urze, carqueja e outros produtos da terra para vender em Chaves e faziam uma zurriada tremenda, a que nós chamávamos os comboios e, normalmente, o primeiro comboio a passar era o de Seara Velha, depois os de Calvão e Castelões, Meixide, Serraquinhos e outros.
Como a dona da casa tinha que se retirar para descansar um pouco e refazer forças para o trabalho da padaria e, os parentes não mostrassem vontade de se deitar e dar por terminado o serão já que estavam perto do que os trouxera ali, a senhora Senhorinha despediu-se deles, pediu imensa desculpa por ter que se retirar, que ficassem à vontade, bebessem o que lhes apetecesse, mas o dever chamava-a e foi então que se virei para eles e lhes disse:
- Bancês se percisarem de alguma cousa, peidam-no!...
Virando-se para a criada.
- E tu Maria, alebanto o cú e dá-lho.
E foi-se deitar sem mais conversa.