Imagens, Comentários e Estórias de Valdanta (Chaves) e das suas gentes.
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Exame para a G.N.R.
Noutros tempos, para fugir ao trabalho árduo do campo e sem qualquer remuneração, a não ser as migas diárias e uma roupa nova para a Páscoa ou para a festa do Sagrado Coração de Jesus (quando o ano corria de feição), qualquer rapaz que tivesse a 4.ª classe, mais que 1.65 m de altura e fosse mais ou menos saudável, logo que cumprisse o serviço militar obrigatório candidatava-se ao lugar de soldado num dos ramos das forças paramilitares (Polícia, Guarda Fiscal ou Guarda Nacional Republicana).
Diga-se, em abono da verdade, que foram estes corajosos (antes da emigração) que tiveram a possibilidade de dar alguma formação aos filhos e deles descenderam muitos doutores e pessoas ilustres.
Em Valdanta não era diferente das outras aldeias da região por isso também por aqui houve muita boa gente que concorreu para estes serviços públicos.
Decorria o ano de 1943, a 2ª Grande Guerra estava longe do fim, o que se produzia no país era enviado para as zonas de batalha, a Guerra Civil de Espanha também tinha deixado muitas feridas, principalmente nas aldeias fronteiriças, foi então que o Zé Latas, acabado de cumprir o serviço militar, habituado já a algumas mordomias que em casa dos pais não encontrava resolveu candidatar-se ao posto de soldado da G.N.R..
Meteu os “papéis” e aguardou que o chamassem para prestar provas.
Das provas físicas não tinha ele grande medo, pois estava na força da idade, sempre fora habituado ao trabalho duro do campo e com a alimentação e exercícios da vida militar, sentia-se mais ou menos preparado. As provas escritas, é que lhe metiam um certo acanhamento, já que desde que fizera a 4.ª classe, nunca mais pegara num livro ou jornal para se actualizar.
Enquanto esperava que fosse chamado a provas foi estudando alguma coisa, pediu que lhe fizessem uns ditados tentou resolver alguns problemas do caderno que ainda tinha da 4.ª classe e lá se foi preparando até que chegou o dia das provas de ingresso.
As contas lá correram mais ou menos, apenas sentiu alguma dificuldade nos “eibões” que é o mesmo que dizer “e vão 2...etc.”, contava ele quando, depois do exame soube que passou e que brevemente iria vestir farda nova com boné e tudo.
O maior orgulho dele foi que no ditado apenas deu “2” erros, não foi porque não soubesse mas porque trocou o “H” no nome do primeiro rei de Portugal. Ele bem sabia que tinha um H, mas não sabia onde e... escreveu “Hafonso Enriques”.
- Apenas com uma letra dei dois erros dizia ele orgulhoso.