Com imagens e texto de Luis Fernandes (Luis da Granjinha) se apresenta mais uma vez a força da tradição e vemos como foi cumprida a "promessa" de se cantarem os Reis a S. Sebastião no dia 5 de Janeiro.
Um abraço para o sr. Luís e para todos os familiares e amigos de Valdanta.
“OS REIS EM VALDANTA”
O «CANTAR DOS REIS», em VALDANTA, é um acontecimento digno de ser acompanhado e vivido.
É um exemplo de verdadeira tradição, pois tem sido realizado pelos Valdantinos desde tempos imemoriais, e não lembra a nenhum dos mais velhos que alguma vez tenha ficado por ser celebrado.
Já os nossos avós, com quem os aprendemos a cantar, mostravam receio de que, «com o tempo», «os REIS» deixassem de ser cantados.
Mas era uma preocupação mais intencionada para que o evento ficasse registado mais vincadamente no coração e na memória dos mais novos.
Este ano, em 2013, a tradição mostrou-se viva.
O dia amanheceu mesmo com um enorme e cerrado nevoeiro, chegado com o cair da noite de sexta para sábado.
Por VALDANTA, o sol e o nevoeiro; a chuva e a neve; o frio, o calor e a geada são comuns.
Pelas oito da manhã, os «CANTADORES dos REIS» já se reuniam frente à CASA do POVO.
Como de “questume”, formaram-se dois grupos: - um parte para a ABOBELEIRA; outro, para o CANDO e a GRANGINHA.
Vá-se lá saber por que artes, à «hora certa» chegam «ambos dois», ao mesmo tempo, ao “sítio do Almoço” - quer este seja no Salão da CASA do POβO, quer seja no “Jardim da Casa do Nuno da Dulce do Alfredo”.
VALDANTA está pegadinha às CASAS-dos-MONTES, um arrabalde típico da cidade. E, neste, alguns dos sobreviventes mais antigos “‘inda fazem questão”, e com todo o gosto, que «Os de VALDANTA» lhes cantem “os REIS” lá à porta!
Falamos em almoço.
Pois é!
É que os FORNOS do POβO e os das casas das “RAPARIGAS de VALDANTA” aproveitam para mostrar o que valem e pra que servem!...
E, feita a ronda da parte da manhã , essas jóias de RAPARIGASoferecem aos “Cantadores” uma «feijoada cozinhada à maneira».
E a “pinga” até parece que foi feita para esse dia!
Depois da primeira grande batalha contra o frio deste Inverno, os dois grupos dão conta de um lado e de outro da parte alta da sede da Freguesia, juntando-se certinhos, no passo e na hora, no “Largo da Paragem das Carreiras”, para concluírem «a volta», já com a noite entrada, ora à porta, ora dentro das casas que ficam «a caminho de SOUTELO».
Acordeões, bombo, violino e castanholas animam a malta e acrescentam beleza às vozes dos Cantadores. “Hora em ponto” chegam à CASA do POβO. Aí, a lareira já está acesa, e a mesa preparada para o Jantar.
As jóias de RAPARIGASde VALDANTA, “certinhas como um relojo”, servem um caldo que … assenta cá no ‘stômago, duma maneira!
Que bem que soube!
Logo a seguir, umas batatas assadas nos “Fornos do Poβo”, com aquele loirinho e sabor que até a vós, que não as “estaisde” a ver à frente dos olhos, vos faz brilhar o apetite e escutar a promessa do que se lhe segue.
Claro!
As canecas, de pingota seleccionada, ficaram rodeadas de travessas de vitela assada, frango, leitão, lombo de porco, carinhosa e apaladadamente preparadas nos «FORNOS do POβO e das Casas” pelas “RAPARIGAS de VALDANTA”.
Come-se, bebe-se e conversa-se com grande e sã animação.
E, este ano, até tivemos à mesa o Pároco da Freguesia, por sinal, nascido e criado na Freguesia pegada de SOUTELO - o Sr. Pe. GUERRA.
A sobremesa foi um requinte de bom gosto e de paladares!
“Agôra” admirem-se que se diga que «as RAPARIGAS de VALDANTA» são uma doçura!
Ai não, que não são!
Para o ano, quem quiser cá vir, tem de «PAGAR O βINHO», no Café d’ALICE ou no da LILI!...
“Afinfada” a sobremesa, arrumam-se as mesas, e os bancos encostam-se às paredes. Os «tocadores» instalam-se a um lado da lareira.
O Benjamim, do CANDO, afina o toque do violino.
O João Paranhos, de Valpaços, e o Alfredo Faria, das Boticas, combinavam as claves dos acordeões.
O “Coradinho” treinava o compasso do Bombo.
O João da Abobeleira apurava o som das castanholas.
É chegado o momento de todos ao “RAPAZES e RAPARIGAS de VALDANTA” cantarem «os REIS» ao senhor Padre.
“Olhaide”, e que bem que cantaram!
Quem não soubesse do improviso até juraria que “os RAPAZES e as RAPARIGAS de VALDANTA”andam bem ensaiados.
O RAFAEL e o ANDRÉ entoavam:
-Viemos dar as Boas Festas
E alegremente cantando
Que tenhais boa saúde
E princípio de Bom Ano.
E logo o Lipe, o Dinis, o Valpaços, o Adriano, o João Cruz, o Jorge Romão e o da Abobeleira; o Domingos e o Gabriel, do Narciso; e até o Presidente da Junta, entre muitos outros; e a Teresa, a Deolinda, a Laidinha, a Graciete, a Bia, a Cidália, a Otília, a Alda, a Secundina, as três Dulces, a Aninhas, a Madalena e a Lu, faziam estremecer as copas das árvores da Avenida de Santa Bárbara, cantando:
-Viemos cantar os Reis
Viemos por devoção
Dai a ‘smola que puderem
Para o S. SEBASTIÃO!
O “senhor Padre” ficou surpreendido com os seus fregueses.
Alguém daquela multidão ficou tão encantado que pediu bis.
Foi-lhe feita a vontade.
E, cheias de brio, “As RAPARIGAS de VALDANTA” começaram a cantar a «Marcha de VALDANTA”.
A Teresa, a Secundina e a Dulce começam:
-VALDANTA, terra querida,
Recorda o teu passado.
Veste as grinaldas mais belas
Qu’a velha história te há dado.
E todas, em coro:
Uma saudade
Quem a não tem
Da Terra amada
De tão carinhosa mãe.
Saudade, sim.
Tristeza não.
Porque a tristeza
Não faz bem ao coração.
E, por aí fora, as outras quadras.
Lindo de se ver e de se ouvir!
Depois, dedicou-se o tempo ao bailarico.
O Fredo e a sua Dulce, de Valdanta; o Zé da França e a sua Dulce, do CANDO, deram nas vistas com o seu pé de dança!
Sentimos a falta de alguns amigos e Valdantanos, a quem a pouca saúde, a vida profissional ou a distância impediram a visita ao seu cantinho.
O Zé d’Arminda bem QUE podia ter vindo cá tirar uns retratos!
E a Lai, outro tanto!
Se não fosse pra matar saudades, «ò menos» pra registarem, com a sua arte, este acontecimento «acontecido»!
Viva VALDANTA (Abobeleira, Cando, Granginha e Valdanta)!!!
Luís da Granginha
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