Imagens, Comentários e Estórias de Valdanta (Chaves) e das suas gentes.
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Quinta-feira, 27 de Setembro de 2007
Novo Dicionário de Português
VIÚVA - Acto ou efeito de ver uva. Afirmação de quem viu um cacho de uvas. Vindimar.
Sábado, 22 de Setembro de 2007
"Quo Vadis" Abobeleira?
Esgotos correm pelos lameiros há mais de quatro anos
A paciência dos lavradores esgotou-se e fartos de promessas e de verem a sua situação a agravar-se de dia para dia, denunciaram a situação à Brigada Verde da GNR.
Foi assim que na semana passado a freguesia de Valdanta, mais propriamente a aldeia de Abobeleira foi motivo de reportagem no jornal “A Voz de Chaves”. E, como de costume, os motivos não foram os melhores e os mais recomendáveis, pois foi necessário um cidadão de nome Artur Carvalho queixar-se à GNR do estado deplorável em que se encontra um lameiro devido ao escoamento dos esgotos públicos da aldeia. Desesperado com a sua situação, levou as autoridades aos seus terrenos, para que constatassem eles próprios os factos.
Foi assim que esclareceu “A Voz de Chaves”:
“Esta é uma situação que já se arrasta há quatro anos e o Verão está a chegar ao fim e vai continuar tudo igual. A Câmara de Chaves, na altura com outro vereador a tomar conta dos esgotos, disse que ia resolver o problema, mas eu não vejo nada. Trocam de pelouros, mas os problemas do povo continuam por resolver,” disse desesperado com a situação Artur Carvalho.
“O que mais me incomoda é o Secretário da Junta dizer que esta não é uma situação prioritária. Eu tenho gado e, de algumas das minhas terras, pago renda, mas destes lameiros, que têm o cheiro e o aspecto que todos vêem, para além de não conseguir tirar os cerca de 300 fardos que sempre tirei, nem o gado cá posso meter, pois, para além de se atolarem todos, podem apanhar alguma doença. Até aqui mantive-me sempre calado, mas agora basta, pois até os poços ficaram contaminados e para dar água ao gado tenho de ser eu a carregá-la. Já tiveram muito tempo para resolver, pois estou a ficar cada vez mais prejudicado e isto já não é um problema meu, mas sim um problema de saúde pública,” frisou.
Sobre o assunto não vou acrescentar muito, porque não gosto de aproveitar a “poeira” levantada por outros para fazer “ondas”, e porque está tudo dito no jornal que, para quem não teve a oportunidade de o ver em “papel”, clique
AQUI. Quero apenas reforçar a minha ideia de que os candidatos à carreira política deveriam ser portadores de um “CERTIFICADO DE VERGONHA” passado por pessoas idóneas e competentes na matéria. É claro que também não sei se haveria alguém com competência para o cargo. E mais não digo…
Terça-feira, 18 de Setembro de 2007
O Rouxinol da Pipa
Rodeada de bosques e aconchegadinha em quintais, era uma vez uma Aldeia pequenina, com poucas casas e muitos baldios, cortinhas, quintas, «abertas», vinhas, soutos, bosques e “ribeira”.
A ela se encostava a cidade pelas Casas-dos-Montes e vivia abraçada a Aldeia do Cando.
A linha do comboio bordejava-a em grande extensão e os sonidos da locomotiva assemelhavam-se a suspirados gemidos de tristeza por não poder chegar ao seu seio.
O Sol Nascente apressava-se a beijá-la e a convidar os aldeãos, a canalhada, o gado e a bicharada para uma celebração da vida.
O “CAMPO” era o estádio olímpico da criançada. Se contada pelos dedos das duas mãos, sobrariam ainda algumas falanges e falangetas.
Aí se batiam os recordes mundiais (do nosso mundo) da macaca, das escondidinhas, do salto em comprimento, do rebolar, das corridas de quadrigas de Grilos e saltões, e se dava a partida e a chegada da nossa Volta a Portugal em Bicicleta (só com guiador feito de arame, sem quadro, sem selim, sem rodas, sem travões).
Na eira encostada ao caminho de S. Fra(g)ústo, faziam-se umas finais do nosso campeonato mundial de futebol. A bola era especial - feita duns piúcos e de uns carpins enrolados nuns soquetes, tudo cientificamente obtido através de ladinas pesquisas nos laboratórios de costura da prima Jesus ou da ti’Alcina do João Carteiro.
No caminho para o Matadouro, logo a seguir à fronteira do Campo, havia uma «barreira». Era o aldeamento turístico da passarada. Apesar do nosso metro e trinta de altura, o melhor que conseguíamos para ver as chegadas relâmpago e as partidas foguete desses turistas chilreantes era esticarmos o pescoço, arregalar os olhos e gritarmos uns para os outros:- “Olha aquele ali! Leva um saltão!; Outro! Traz uma minhoca!; Ó Júlio, olha, ali é um ninho de Carriça!, Mário, Mário, estão dois passarinhos a espreitar naquele buraco!; Luís, aquele é um cascarrolho!”
E naquele negrilho tão alto como o Castelo de Monforte, parecia, aquele melro trisavô desafiava-nos com os seus assobios de barítono divertido.
Nos palheiros do alto do Campo as Poupas faziam a sua criação. E, atrevidas, aperliquitavam-se nas cancelas ou nas beiras dos telhados a provocarem-nos para lhes descobrirmos os ninhos.
Nos caminhos para o Vale Coelho ou para a Aberta da Ti’Aurora, os silvedos e as heras ajardinavam os muros em pedra. Eram os locais preferidos para os pintassilgos andarem na brincadeira. O Tó e o Tio Quim semeavam por aí umas «esparrelas» e nelas caía passarada à farta.
Gaios, papa-figos, pinta-roxos, verdelhões, tentilhões, chincharravelhos, folecas, alvéolas, andorinhas, piscos e chascos, pardais e rouxinóis tinham, nesses quintais, «cama, mesa e roupa lavada».
Entre o estreito Largo da Capela e o menos estreito Largo do Carvalho havia uma fonte de água fresquinha e saborosa. Estava dois degraus abaixo do caminho.
Enquanto a Tia Augusta preparava a ceia e o Tio Quim metia os bois na corte e pendurava o Jugo e as mulhelhas, o Oswalde(o) da Abobeleira acompanhava a Glória à Pipa onde colhia, durante 15 minutos, um cântaro que só levava um cântaro de água.
À mesma hora, o Tio António Guarda levava os burros para o Palheiro, ao cimo do Campo; a Tia Quinhas, aflita com as raposas, berrava com as galinhas que teimavam em não entrar no galinheiro; e a Elisa descia, tão vaidosa quão bonita, até à Pipa, acompanhada pelo Jurel, do outro lado donde pegava numa cântara de pouco mais de duas canadas, que demorava 16 minutos a ficar cheia.
Fosse Verão, fosse Inverno, as chaminés sempre fumegavam - em sinal do ferver dos potes e caldeiros, e em sinal do fervor de corações apaixonados.
Na Fonte da Pipa alguém escreveu, a cinzel, no lintel da mina: “Fonte dos Namorados”.
Aí chegados, o Oswalde(o), mal a Glória punha o pé no primeiro dos dois degraus na descida, avisava: - “Glória, tem cuidado! Vê lá se escorregas!”
E o Jurel, assustado, recomendava à Elisa, mal esta trepava para o primeiro dos dois degraus da subida; “ Elisa, tem cuidado! Vê lá se tropeças!”.
A tia Requeta, com aquela solenidade com que sempre vestiu os seus modos, abria o portão da Capela, puxava a corda e tocava a sineta ao ritmo de Trindades.
No negrilho ou nas carvalhas entufadas e debruçadas sobre a Fonte um Rouxinol residente, príncipe encantador e encantado daquela Aldeia, soltava trinados melodiosos que suavizavam as canseiras do dia, lembravam a hora do amor, faziam esquecer o pecado venial e …… até que, muitas vezes, se comessem as batatas rebidas!......
Nos luares de Agosto, muitos dos poucos aldeãos juntavam-se no “Carvalho” em amena convivência.
Um desses rapazitos, deitado numa fraga ainda quente à causa do sol estival, catrapiscava as estrelas e, para lhes cair em graça, cantava cantigas populares.
De manhã, ao levantar, fazia dueto com o melro do olmo gigante; à tardinha, com o rouxinol da Pipa.
E o Povo, que gostava de o ouvir cantar, envaidecia-o e chamava-lhe:
“O ROUXINOL DA GRANJINHA”!
Pode não haver lá mais olmos nem negrilhos.
Tampouco poder darem-se pincha-carneiras no CAMPO ou aí ser-se olímpico.
Mas a GRANJINHA jamais deixará de ser berço e morada de ROUXINÓIS.
Brilhante é o diadema do NOSSO e do VOSSO actual
Tó -“ROUXINOL DA PIPA”-Zé!
Luís da Granjinha
Segunda-feira, 17 de Setembro de 2007
Valdanta está mais Pobre
Valdanta está mais pobre porque faleceu o "Rei". Faleceu um homem bom, honesto e cheio de dignidade.
Esta fotografia foi tirada no dia 08/07/2007 com a ideia de contar aqui algumas das "estórias" do "Rei" ou do "Mata a Reca". Conversei com ele e até acertámos alguns pormenores dessas "estórias". mas como me apercebi do seu estado de saúde não o fiz nem vou fazê-lo agora por respeito à sua memória e à dor dos seus familiares (eu também sou família), mas quem sabe se um dia diremos alguma coisa, se por acaso este Blog durar muito tempo até porque o Rei vai ficar sempre na nossa memória e vamos recordá-lo com saudade e carinho.
Por hoje apenas quero apresentar a toda a família as minhas mais sentidas condolências e desejar que o Domingos descanse em paz.
sinto-me: Triste
Quarta-feira, 12 de Setembro de 2007
D. Maria Isabel Queirós Pereira - Uma Professora ... uma Amiga!...
Estas Fotografias são da homenagem que lhe prestou a Associação Flaviense dos Bombeiros Voluntários (Bombeiros de Baixo) aquando da inauguração do seu novo quartel em 28/07/2001
Do lado esquerdo é a casa da D. Maria Isabel no Largo do Anjo em Chaves
Hoje quero, aqui, prestar homenagem à senhora D. Maria Isabel, competentíssima professora primária dos rapazes de Valdanta, entre meados dos anos 40 e início dos anos 60 do século passado. Pessoa exigente, com ela e com os seus “rapazes”, respeitadora e dada ao respeito, digna e dotada para a profissão que exerceu durante muitos anos.
Poder-se-iam contar muitas histórias e “estórias” da passagem da sr.ª D. Maria Isabel por Valdanta, mas, apenas, lembramos as suas exigências de higiene, comportamento, disciplina, dedicação, respeito pelas pessoas e pelas coisas, pontualidade e dedicação.
Toda a minha formação académica foi baseada numa instrução primária completa que a senhora D. Maria Isabel me soube dar, com exigência e rigor, mas, sem dúvida, uma das melhores formações que tive. Foi esta “escola” que sempre me guiou na vida e na relação com as pessoas, por isso, só tenho que lhe dizer com toda a minha sinceridade e humildade: - BEM HAJA.
Suponho que em Valdanta há muita gente que não sabe grande coisa do currículo social e profissional da senhora Dr.ª D. Maria Isabel Queirós Pereira e por isso vou aqui referenciá-lo:
Filha de um Capitão (militar) de cavalaria, nasceu em Chaves, no largo do Anjo. Em Chaves fez o ensino primário e o liceu até ao antigo 7.º ano na área de letras. Aos 20 anos de idade completou, no Porto, o curso do Magistério Primário com 16 valores, aos 24 licenciou-se em Pedagogia com 13 valores, mas optou pelo Ensino Primário e exerceu profissionalmente durante 42 anos.
Exerceu nas escolas de Darque (Viana do Castelo), Valpaços, Valdanta e Chaves (escola da Lapa). Em todo o lado foi querida e adorada por todos, pelo seu elevado profissionalismo, bondade e tendência, que tinha, de bem fazer. Foi da Escola da Lapa durante 19 anos. Adjunta do delegado escolar durante 9 anos e Arquivista dos Processos Disciplinares durante 9 anos.
Socialmente é uma pessoa encantadora e desde muito cedo revelou a sua tendência para as artes pois aos 6 anos já fez parte de uma récita infantil, onde representou, cantou e dançou. Aos 10 começou a aprender a tocar piano. Aos 13 começou a revelar-se na poesia. Fez lindíssimos sonetos acrósticos, biografias em verso, poesias humorísticas e não só. È uma grande poetisa. Aos 14 anos entrou numa Opereta “O Lobisomem”. Aos 18 anos tirou o curso de Equitação. Aos 21 anos ganhou um Concurso de Beleza. Aos 22 ganhou, no Casino da Póvoa de Varzim, num concurso de Dança, o 1.º prémio de Tango. Aos 25 anos tirou a carta de condução (como me lembro daquele “Fusca” preto).
Foi uma Pedagoga intelectual, muito ilustre e humana. Escreveu 2 livros em prosa “Melancolia” e “Saudade” e fez muita poesia que não editou. Foram-lhe concedidos 2 louvores pelo Ministério da Educação Nacional, pela sua integridade profissional e por ter colaborado com o maior interesse na Campanha contra o Analfabetismo.
Foi Directora e Administradora da Cantina Escolar de Chaves durante 20 anos, tendo recebido do Comendador Brenha de Fontoura um medalhão em prata.
Por último, é benemérita reconhecida da Associação Flaviense dos Bombeiros Voluntários (Bombeiros de Baixo) onde lhe foi erigido um busto no novo Quartel.
Enfim, é uma senhora muito culta, muito humana, muito bondosa, muito modesta, muito discreta e e sigilosa, no seu apostolado de educar e de bem fazer.
Mais uma vez, para a senhora Dr.ª D. Maria Isabel Queirós Pereira o meu reconhecimento e o meu BEM HAJA pela educação e ensino que me proporcionou e a todos os rapazes de Valdanta que foram seus alunos.
(Dados recolhidos no “Notícia de Chaves”
Domingo, 9 de Setembro de 2007
Abobeleira - Contrastes
Esta fotografia foi tirada do mesmo sítio da anterior, mas em sentido contrário. Reparem como está tratada a "Coisa Pública". Sem comentários!...
Num post do Blog de Chaves, o Fernando Ribeiro apresentou uma fotografia deste local tirada com, pelo menos, 2 meses de diferença e reparem que o lixo ainda é o mesmo. Comentários para quê?...
Quinta-feira, 6 de Setembro de 2007
Abobeleira - uma rua típica
Hoje não vamos fazer gandes "sermões", apenas apresentamos aqui uma rua de Abobeleira que prima pelo seu tipicismo e simplicidade. Vê-se também algum empenho na sua recuperação.
Gostamos de ver as nossas coisa tratadas e estimadas e neste caso, como é uma zona muito antiga deve continuar a ser tratada, estimada e respitada.
Segunda-feira, 3 de Setembro de 2007
Famílias Numerosas - a do Ferreiro
O senhor António ferreiro com cinco filhos e uma neta
Antigamente sempre houve famílias numerosas e Valdanta não é nenhuma excepção. Lembro-me de um casal da Abobeleira que teve 14 filhos de quem iremos falar em tempo oportuno, mas em Valdanta houve pelo menos 4 casais que tiveram e criaram onze filhos. De um já falou o Jorge Romão no Blog de Vale de Anta e o mais engraçado nessa família é que eram três irmãos e cada um teve 11 filhos o que deu 33 netos aos seus avós. Será caso único? Não sei, mas prometo investigar e falar sobre o assunto. Outro casal que teve e criou 11 (onze) filhos foi o, já nosso conhecido, Ferreiro de Valdanta.
É sobre o senhor António Fernandes e a sua esposa Silvana Rodrigues que vamos falar hoje. O António ferreiro nasceu nas Casas dos Montes e casou com a sua “Subana” Silvana Rodrigues da Abobeleira e vieram viver para Valdanta, instalando-se com oficina de ferreiro junto à estrada que liga Chaves a Soutelo no lugar denominado simplesmente “Estrada”.
Tempos difíceis aqueles, mas ele precisava dos filhos para o ajudarem a malhar o ferro na forja e assim ia trabalhando também noutra arte que era a de fazer filhos. Se alguém lhe perguntava porque é que tinha tanto filho e com idades tão próximas uns dos outros, ele respondia:
- É a minha Subana, cadalho, é só uma chiscadela e já está. Só ponho as calças na cama e fica logo cadalho.
Com todas as observações do ti António ferreiro, também conhecido pelo Ferreiro de Valdanta, o que é certo é que teve e criou 11 filhos, que se a memória não me atraiçoa e por ordem decrescente são os seguintes: - Alda, Alice, Manuel, António, Alzira, Flávio, Zé, Helena, Aniceto, Horácio e a Adelaide.
Recordo-me da maior parte deles, mas por uma questão de idades relacionadas comigo é dos mais novos de quem me lembro melhor. Fiz a escola primária com o Aniceto e o Horácio e convivi muito com a Helena e a Adelaide.
Sei que alguns já não estão entre nós, mas o Flávio, o Zé e o Aniceto vivem no Brasil e, tanto quanto sei estão bem de vida. O Horácio que também esteve no Brasil está agora estabelecido em Viseu. A Alzira vive em Chaves e cuida da irmã Adelaide que se encontra bastante debilitada. Dos restantes, não sei concretamente, sei apenas que alguns já faleceram lá para o Brasil, mas da Helena não sei mesmo nada.
È do Brasil que esta família acompanha o que se vai passando por Valdanta através deste espaço e que muito me apraz registar. Nunca apareceu ninguém no Blog a comentar, mas têm aparecido a contactar-me directamente no meu endereço electrónico e a saber mais novidades.
Para todos os “Ferreiros” que vivem no Brasil, e não só, um grande abraço e em especial para a Beth, filha do Flávio e que nos vai visitar pela primeira vez no próximo ano, a quem, antecipadamente desejo uma boa estadia entre nós.
O Aniceto visto no mês passado
O Flávio a Alzira e a Adelaide.