Ora aqui está o meu amigo Fernando. O homem das mil e uma estórias, cantoneiro de profissão e o único praça do meu ano que não saiu de Valdanta. Andámos juntos na escola, e fomos criados nas ruas e largo do Povo sem preocupações nem grandes distrações.
Nesses tempos, os meus pais tinham uma cabra que adquiriram para ajudar a amamentar as minhas irmãs gêmeas. Eu, normalmente, é que ia com ela para o monte. A cabra era forte como uma vitela e custava a segurar, até costumávamos andar a cavalo nela.
Um dia estava eu com ela junto ao poço de cima do Povo e apareceu o Peludo que me perguntou:
- Queres que bá contigo?
E eu que o que queria era companheiro para a brincadeira disse que sim e perguntei-lhe se queria comer da minha merenda.
- Quero. Respondeu ele.
- Então seguras aqui na cabra enquanto vou a casa por pão e cebola.
O Peludo faz uma laçada com a corda de segurar a cabra e amarra-a à cinta. A cabra quando me vê ir embora vai atrás de mim e lá vai o Peludo atrás da cabra preso meio pelo pescoço e meio pela cintura. Tive que correr para trás para salvá-lo senão a cabra não parava.
Esta foi uma das primeiras grandes estórias do Peludo, mas há muitas para contar que virão a seu tempo, mas quero contar a última conversa que tive com ele.
Naquele geito e forma de falar arrastado e meio pelo nariz diz-me quando cheguei ao pé dele:
- Queres saber Zé? São uns filhos da ... mãe . Bou prá guarda! Atão? Atão o quê? Mataram-me o cabalo todo!... enbenenado... Já viste? Um home num pode ser bô. Mas eu se os apanho!... Atão mataram-me o cabalo todo!... enbenenado... Um cabalo que me custou oitocentos contos im Meixide. Mataram-me o cabalo todo... enbenenado. Agora bou prá guarda qui os meto todos na cadeia. Já biste? Tu num biste nada. Atão mataram-me o cabalo todo... enbenenado. Custou-me quinhentos contos na feira dos Santos e mataram-mo todo... enbenenado.
-Então compraste-o nos Santos ou em Meixide? Perguntei eu.
- Mataram-me o cabalo todo... enbenenado....
- Pronto, deixa lá tu ganhas bem e podes comprar outro. Disse eu para o acalmar. Então e tu já jantaste?
- Comi dois bifes deste tamanho. E punha a mão direita em cutelo no pulso da mão esquerda com esta entendida, para mostrar o tamanho do bife.
- Então hoje já não tens fome. Também estás bem tratado. Disse eu.
- Ó home bem comer. Só sabes dar à língua. Diz a mulher, saindo de casa, aos gritos.
- Já bou. estou a falar aqui com um praça do meu ano e mais a mais num tenho fome.
- Pronto Fernando, vai lá jantar que eu também tenho que ir embora.
- Mataram-me o cabalo todo... enbenenado. Disse ainda a caminho da casa muito triste e desconsolado.
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